sábado, 13 de fevereiro de 2010

Vergonha própria

Avenida Paulista, São Paulo.
Livraria Cultura, point de 9 entre 10 pessoas que gostam de ver as novidades do mundo literário.
A idéia era trocar o livro 'Preciosa' que ganhei de minha amiga Juliet, livro esse que ela me deu pelo título por nossa mania de anos de nos chamarmos de "my precious".
Juro que tentei ler esse livro, mas não estava na pegada de ler a história de uma obesa semi-analfabeta que tem 2 filhos vindos do estupro do pai. A vida já é tão difícil, queria uma leitura mais light.
Foi quando lembrei que em minha última passada pela Livraria Saraiva me chamou atenção um daqueles livros com o título ridículo que morremos de vontade de ler mas temos vergonha de comprar.
Sinceridade?
Sou uma anta na minha vida sentimental, admito, preciso da ajuda de alguma boa alma para me dar uma luz do que estou fazendo errado.
Sim, sou toda trabalhada na ridicularidade.
Pergunto para o vendedor quase em seu ouvido se ele tem o tal livro na loja, na verdade parecia mais que eu estava perguntando se lá vendem drogas, ele não dá a mínima bola pra minha vergonha, afinal, trabalha no setor de auto-ajuda e está acostumado com desesperadas, digo, mulheres como eu, diz que tem o livro sim, aliás, ufa, o último, e vai em outro setor buscar o mesmo.
Enquanto isso eu fico esperando. E esperando e esperando....
Estou dando uma olhada em outros setores e percebo que tem um cara olhando pra mim.
Parece ser bem gatinho, minha mãe diria que um rapaz bem apanhado, barba de uns 5 dias, cabelo com um corte decidido, ar intelectual.
Pego na prateleira 'Caim' lançamento de José Saramago, começo a folhear e sorrateiramente olho pra ele e quando nossos olhos se encontram ele me dá um semi-sorriso como quem diz "tô afim gata, só chegar".
Opa, tá na minha!
Depois disso vou saltitando pelas prateleiras só pegando livros que pegariam bem nesse nosso primeiro contato literário...e dá-lhe 'Perto do Coração Selvagem ' da Clarice Lispector pra mostrar que sou feminina, mas de uma maneira lírica, 'Mandrake' do Rubem Fonseca, dando o recado que conheço o universo dos homens e me sinto bem à vontade nele, 'O apanhador no campo de centeio' de J.D. Salinger pra mostrar que sou uma mulher clássica e os clássicos nunca morrem e o golpe de mestre, 'A casa dos budas ditosos' de João Ubaldo Ribeiro, dando a deixa que sou letrada sim, mas aqui tem muito borogodó.
Nisso volta o vendedor e me entrega o vergonhoso livro que vim comprar, num rápido movimento pego o mesmo da mão dele, viro a capa pra baixo, e vou me dirigindo ao caixa torcendo para não ter sido descoberta.
E não é que o cara vem atrás?
Me posto na fila do caixa, uma daquelas ilhinhas no meio da loja com vários atendentes, estou em uma fila e ele na outra bem em minha direção, e continua olhando.
Até olho pra trás, será comigo mesmo? Era. Caramba, vou usar esse vestido mais vezes, ele deve cair muito bem em mim.
Mas como minha vida é roteirizada pelo Costinha, chega minha vez e um vendedor pergunta pra caixa:
- Porque os homens se casam com as manipuladoras?
Ela dá risada e responde:
- Isso eu não sei, mas se for o livro essa moça aqui está levando o último.
Olho pra ele e seu olhar de decepção é evidente, dois segundos depois ele ja está olhando pro teto, num inesperado interesse pela iluminação da loja.
Como diria Maysa 'meu mundo caiu', pena e comiseração para moças como eu que precisam ler esses livros ridículos.
E como que para desanuviar o ambiente a caixa engraçadinha olha pra mim e fala:
- Cpf na nota, senhora?

Comentários
5 Comentários

5 comentários:

  1. Sei lá, podia ser até pior imagina se ele te vê com o segredo! Na verdade, isso me lembra uma caixa baixinha na Bobs... Eu tinha pedido o sanduíche com Refri e batatas grande. E como eu alto e sempre fui gordo ele me olha dos pés a cabeça e grita o pedido: "Sanduíche e com batata e Refri graaaaaaaaaaaande"

    ¬¬

    ResponderExcluir
  2. Hahaha, refri grande es fueda..haha
    Menino, tô tentando te seguir e comentar no seu blog e não consigo, sou burrica? rs

    ResponderExcluir
  3. Tu escreve de um jeito tão leve (:
    Adorei :*

    ResponderExcluir
  4. Obrigada!
    Preciso escrever mais nesse blog, abandonei.

    ResponderExcluir
  5. bom, mas tem algo muito de fundamental que não rolou: qual livro ele ia comprar?
    se fosse um do Augusto Cury vc se livrou de uma encrenca, rs

    ResponderExcluir